Estou nu.
E assim eu poderia simplesmente inexistir
como o fizeram Neto transformado em zero,
Bandeira, que não deixara sequer nomes.
Outros...
Estou nu.
Nem como vim ao mundo
mais nu ainda.
Não a nudez da verdade de um morto insepulto.
Nu, ainda mais...
Nenhuma roupa-de-baixo pra aparecer por cima.
Nenhum pêlo crescido que possa esconder a minha cara cínica.
Crua e Nua como a natureza sem cascos,
sem crosta, sem grossa camada, sem escamas.
Sou tudo aquilo que vejo e só vejo parte daquilo que sou
― em trocadilhos baratos, ainda que esteja nu.
Frente ao espelho, nu.
Nem dentro,
nem dentro estou vestido.
Nem minha alma está vestida.
Minto! A minha alma se veste daqueles vidros de aeroporto
em que se podem ver os ossos do corpo
nu,
sem roupa, sem óculos, sem meias
nu de nervos, nu de amores
nu de tremores, nu de estertores, nu de rumores...
A única prova de minha existência ferrenha
é a dor que eu provoco, a dor que eu sinto,
(Dôo, portanto existo)
A dor que eu minto.
Minha nudez, atentado violento.
Nu,
a dor sem esparadrapos, sem mercúrio-cromo, sem álcool, sem éter,
a dor etérea da lâmina aguda das horas, dos segundos, das rochas...
...nuas, completamente nuas.
De uma nudez sem braços, sem traços, disforme.
Não este não sou eu no espelho!
É outro! Só pode!
Sem pele, sem raça, sem chão, sem religião
sem história nem estórias pra contar
como um griot funéreo das semanas insepultas da África...
Sem pai, sem mãe, sem irmãos
(e todos vivos ali, logo ali, na sala)
Quase sem pão
― que o trabalho me alimenta e me veste
de rendas e bordados de vaidade e de vontades,
a vontade absurda de estar nu.
Nu,
como aquilo que pulsa ao querer começar,
como aquilo que vê mas não sabe enxergar
a folha branca, página que descansa.
Nudez muda que se entrega.
Mudez surda, cega.
Nu,
deserto entre as estrelas relfetidas na lama.
Nu,
veredas, onde só o vento, só o vento...
Nu até de palavras pra dizer que estou nu.
Da mais completa nudez em que se possa estar nu,
textura daquilo que dorme
textura daquilo que morre
despido de sonhos,
despido de pernas, despido de planos
como quem nasce
Ah! A simplicidade das nuvens dos desenhos infantis!
Aqui,
a terra sonambúlica do nada.
Hoje,
Era metamórfica de kafkas
(e sorrisos
postiços
aos domingos)
Musa trôpega.
Escuridão anímica dos rios, estradas d’outrora.
Caímos no abismo! Só pode!
Tinham razão os antigos:
a terra era realmente quadrada.
Traíram-me todos os livros
Tornaram-se putas todas as fadas.
léo m.
agosto de 2 mil e 8
a palavra é o mundo em miniatura, um silêncio que aparece. as palavras são sementes de sentido.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
em cronópios
- Até a morte pequena de todas as memórias
- A poética do estranhamento (parte I)
- Por uma nova História da Literatura Brasileira
- Língua e Identidade
- O livro dos mais pequenos silêncios
- la mort du fou
- Subjetividade e Objetividade nas Ciências Humanas
- O poeta como guia da humanidade
- A formação e o Sentido do Brasil em Jorge Amado e Aluísio Azevedo
- Página de Óbitos
em corsário
minha estante
- a semente (meu fotolog)
- blog do joao pedro
- Cabidela da Laura Castro
- dramophone
- Edson Cruz
- Experiências Musicais
- Farol de Perdição (Sheyla)
- Hugo Metanoiado
- José Leite Neto
- Jéssica Giambarba
- km einstein
- linda graal
- luciano bonfim
- luiz reis DF
- meTamorfose ambuLante
- mirando a mídia
- mínima víscera
- o quarto das cinzas
- poesia maloqueirista
- Tertulia
- the sweetest candies
- uma escada para o nada
- Unidade Escrita (João Vicente)
4 comentários:
"Quando menino um gênio, adolecente um espetáculo, adulto um fenômemo e em breve um mito."
parabéns poeta!
abraços.
vai te vestir, menino!!!
Nu, como se estivesse lúcido.
como se estivesse lúcido
como se estivesse
se estivesse
Postar um comentário