domingo, 8 de julho de 2007

as palavras esquecidas

As palavras saem
bandeiras esfarrapadas
e alcançam o mar
com a graça de um mergulhão e um peixe na boca.
As palavras devoram-se.

Daqui de cima
é mar a dar na vista
- Não senhor! Nenhuma caravela...
- Sigamos...
haveremos de encontrar

Continuemos...
nada mais,
que tudo acontece sem o nosso consentimento.

Essa força que vem, que está, aparece e vai
nos arrasta pra longe, pra fora, pra além.
- Vamos!
Ruge a força a repetir
- Vamos!
E temos que ir.

Lentos como passos de barcos a remo...

Um cardume de mãos invisíveis
se move dia e noite
semeando suas sementes.
Canta Jorge, o bucaneiro

- Corsário ao mar! Corsário ao mar!
Os marinheiros se assustam com o alarde.
“Precipitados se precipitam no precipício do princípio dos tempos”,
diz Uirá, o capitão.
Que os Santos Reis o guiem!

No início eram cachoeiras...
Cada palavra era uma ilha pra naufragar.

O mar se estende sobre os olhos como uma cama vazia, macia e tola
- Um novo amor comeu meu vazio
e um outro vazio comeu meu novo amor.
Chora o marinheiro.

E a nau segue.
Sem remo, sem vela, sem rumo
pelo oceano fecundo navegar.

Vai cega, vai louca
pelo mar sem mar a boiar.
Vai sem leme.

Estrelas no céu já não existem
já não existem mapas a guiar
bússolas e esquadros se perderam.

O bucaneiro e os marinheiros
já abandonaram a nau
certos de que o naufrágio virá.
Mas ele não vem, nunca.
Porque a morte é a eterna espera de si mesmo.

Vai-se a nau
ao sabor das correntezas e dos ventos.

Vai cega, sem intento,
a ferir mortos, vivos e doentes.

Vai surda,
levando nós,
os tristes filhos dos contentes.