sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

continuo tropeçando sempre naquele mesmo passo tantas vezes ensaiado....
“Debate-se
e arrebenta, arranha
dói e não cala.
Os olhos
para fora
fecham-se
teimam
e nada os consola.

Estou só
a sensação imensa do só
e nesta terra vasta
os campos são pálidos.

Estar só
é não ter raízes.
Como pode um rizoma ser feliz
se é impossível ser feliz sozinho?
Como pode um rizoma viver feliz sozinho,
Se só a dois é que se morre... ?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ontem à noite, assisti até altas horas, num canal que não me lembro qual, a um filme chamado “Vanilla Sky”. É incrível como vamos nos construindo a partir de sugestões externas que respondem a nossas ânsias internas. Processos de identificação que partem de nós, projeções fantasmagóricas de nossos maiores anseios, nossos maiores medos. E escrevi esses versos depois de uma sessão ininterrupta de 20 minutos de choro sem poder me conter. Uma explosão. É incrível a sensação que o choro pode provocar de que o tempo rompeu-se mais uma vez, de que o universo caminha, as coisas mudando, novas águas, novas chuvas. Aprendi mais uma vez o que havia esquecido: a grandeza do detalhe, o peso do pequeno, a infinitude de um gesto no rosto, um abraço (dado ou negado), um beijo.

Todo distanciamento é bem vindo. É uma maneira de ver melhor o que está perto. É uma maneira de chegar mais perto.

Entendi o mais importante: que o universo caminha, sempre. Entendi que sou (que somos) sempre vulneráveis e que o amor será sempre um desconhecido. Entendi, como o filme falou, que os corpos fazem promessas, mesmo que não ditas, promessas silenciosas. E que o romantismo original não era piegas, mas um sonho tornado real. Entendi que o segundo é precioso, assim como a lágrima. Aprendi, por fim, que chorar é romper a casca e renascer; que o choro é a marca que o tempo tem para nos dizer de alguma mudança; e que a lágrima é sempre o mais secreto brinquedo de uma criança.

a simone rodrigues passos, os meus dias...
de perto esse mundo é muito longe

livia nogueira
Chorar
é romper a casca
e nascer.

O choro
é a marca do tempo.
A lágrima
é o segundo doendo
Desenraizar-se é o movimento mais doloroso de uma árvore. Não porque sua raízes sejam cortadas. Não porque ela perca seu apoio, seu chão, sua identidade territorial. Porque ela tem que retraí-las para dentro de si, como tentáculos. Recolhê-las depois de tanto espriguiçar-se. É o movimento mais doloroso de uma árvore: fixar-se para depois se ir como um rizoma, uma semente. Diminuída, como se não tivesse nascido, como se não tivesse existido. Involuindo. Vai ver, as árvores mais felizes são aquelas que têm raízes aéreas.