Sempre fui um admirador dos quadros de Robézio Marques e da música de Herveson Santos, o Baxim. Gosto, acho belo Gustav Klint, Volpi... embora nunca tenha visto um original sequer. Gosto do que pode fazer um John Lennon, um Villa Lobos. Mas sempre tive um apreço maior pelos mais próximos. Um amigo, formado em sociologia, com espírito de antropólogo e mestrando em história, o Delano Pessoa ―irmão de outro grande amigo e colega de faculdade, músico, batera de primeira linha e estudioso de italiano, Davi Pessoa― passou a se dedicar à leitura das imagens de Raimundo Cela. Belo sim, nosso. Os quadros dele sempre me lembram os livros do Aluísio Azevedo, um mestre para mim. Mas meu apreço pelos mais próximos sempre me fez preferi-los aos mais famosos.
Talvez pelo meu paladar mais adaptado aos de fora dos grandes círculos da Ignês Fiusa; ainda que alguns destes lutem desesperadamente para entrar nos círculos seletos e seletivos dos glorificados, como é o caso de Carlos Emílio. O nosso marginal, ou melhor, o marginal e nosso.
Talvez pelo meu apreço pelo que é nosso, como diria Zerivan, amigo e pesquisador de Cordel, “um sentimento bairrista”, talvez. Ou mesmo, e tenho principal apreço por essa versão, minha preferência a cultuar os vivos, e dentre esses, os conhecidos.
Talvez por entendê-los. Talvez por um desejo recalcado de que eles fizessem o mesmo e me pusessem na sua estante de preferidos e prediletos, esperança vã ou pretensão vaidosa.
Mas eu gosto de ter, na minha coleção de cds, os da minha geração. Alcalina, 1295, 2Fuzz, Macula, Jácio Cidade, Teófilo, do Piauí, Juliano Goulart, de Brasília, Carol Peryer, da Bahia, Enquanto a cidade dorme, coletânea das parcerias de Alan Mendonça com músicos como Sávio Leão, Calé Alencar etc, Lamentos do Mucuripe de um outro poeta-DJ Emocore, Pingo de Fortaleza, Giramundo, que ajudei a produzir, O circo vai pegar fogo, que ajudei a compor, O Quarto das Cinzas, com quem guardo muitas afinidades, Argonautas...
Gosto de ter, na minha estante de livros, um Luciano Bonfim, um Pedro Salgueiro, um Dimas Carvalho, um Nuno Gonçalves, um Alan Mendonça, um José Leite Neto, um Ivaldo Ribeiro, Carmélia Aragão, Carlos Emílio, Tavinho Paes e Mônica Montone, do Rio, Luiz Reis, de Brasília, Trazíbulo e João de Moraes Filho, da Bahia...
Ler sobre Aurora Zogoiby, a artista plástica indiana do romance de Salman Rushdie, me fez querer ter em casa quadros de amigos como o de Ed Ferreira que penduro na sala junto a ampliações das fotografias coloridas manualmente pelo tchecoslovaco Jan Saudek. Quero sim um Weaver Lima na sala, peças de Waléria Américo no corredor das estantes e os imensos papéis-de-pão a óleo de Robézio Marques no quarto de estudos.
Fanzines de Ayla Andrade, Uirá dos Reis, Marcelo Bittencourt e da fanzineira-mor, a que nos inspirou a fazer fanzines, a toda a nossa geração, a escritora delicadíssima e cheia de imagens singelas dignas de um Monet literário Fernanda Meireles. Vídeos-poemas de Mardônio França, Sabina Colares, Henrique Dídimo e até (pasmem) de Eduardo Jorge na estante da sala de visitas.
Simone, minha mulher antropóloga, reclama que a casa toda fica parecendo um consultório. Cheio de revistas, livros e quadros. Para isso tenho uma resposta quase-imediata, essa talvez a versão mais sincera: é a maneira de ter meus amigos todos bem perto de mim.
léo m.
natal de 2007
a palavra é o mundo em miniatura, um silêncio que aparece. as palavras são sementes de sentido.
sábado, 5 de janeiro de 2008
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