1.
− Pai, onde é a casa do pincel?
− É ali na outra rua.
− E onde é a minha casa?
− É ali, na outra rua.
− E onde é a sua casa?
− É lá em Piripiri.
− E onde é Pi-i-Pi-i?
− É lá no Piauí.
− E onde é o Piauí?
− É lá no Nordeste.
− E onde é o Nodeste?
− É lá no Brasil.
− E onde é o Brasil?
− É na América Latina.
− Pai, e onde é a lata do gato?
E ele repete esse diálogo até hoje. Talvez se lembre dele para sempre.
2.
Noam Chomsky tinha razão.
− Tio Léo, quem é o motoqueiro?
− É o homem que dirige a moto.
− E quem dirige o carro, tio Léo?
− É o motorista. O motorista dirige o carro e o ônibus. Quem dirige o caminhão é o caminhoneiro.
− É o caminhoneiro, tio Léo?
− É.
− E quem dirige a moto, tio Léo?
− Quem dirige a moto é o motoqueiro.
− E quem dirige o trem?
E repete: e quem dirige o trem, tio Léo? É o trenzeiro?
E continua: e quem dirige o... o velocípede?
− Sabe quem é, tio Léo? Sabe quem dirige o velocípede, tio Léo?
− Quem é?
− É o velocipedezeiro.
a palavra é o mundo em miniatura, um silêncio que aparece. as palavras são sementes de sentido.
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
terça-feira, 31 de julho de 2007
a mulher no espelho
Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se nos espelhos.
Cecília Meireles
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se nos espelhos.
Cecília Meireles
um poema para Sartre
O que pode um poema?
O que pode um poema
diante da morte?
O que pode um poema
diante do medo? Da fome?
O que pode um poema?
O que pode um poema
diante da dor
de ver seu grande amor
chorando?
O que pode um poema
diante da flor
que se vê, com o tempo,
murchando?
Pra mudar o que foi
um poema pode nada.
Um poema pode muito
para mudar o que é.
O que pode um poema
diante da morte?
O que pode um poema
diante do medo? Da fome?
O que pode um poema?
O que pode um poema
diante da dor
de ver seu grande amor
chorando?
O que pode um poema
diante da flor
que se vê, com o tempo,
murchando?
Pra mudar o que foi
um poema pode nada.
Um poema pode muito
para mudar o que é.
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