sábado, 14 de abril de 2007

As mãos

As mãos suspensas sobre o teclado e ele pensou que escrever sobre alguém que não consegue escrever devia ser uma traição, uma inverossimilhança, como dizem os aristotélicos. Mas as mãos suspensas sobre o teclado lembravam cabelos molhados, cabelos molhados de suor, pingando letras.

As pedras no caminho não impediam de andar. Era fácil! Qualquer imbecil com um pouco mais de disposição seria capaz de galgá-las. Qualquer idiota seria capaz de caminhar sem tropeçar na pedra. Era só prestar um pouquinho mais de atenção! Exceto uma menina que conheci na faculdade que tinha vergonha de puxar a cordinha do sinal quando o ônibus chegava perto da sua parada, e ela sempre passava do ponto. É uma metáfora boba, ridícula, clichê, abusável. Mas o mineiro não era só isso, graças a Deus!

Pensava nisso tudo e as mãos continuavam suspensas sobre o teclado como cabelos molhados; gotejando palavras. As pedras no meio do caminho são como represas. Represado. Silenciado.

As mãos, suspensas sobre o teclado pensavam e pesavam como pedras.

Compreendeu, por fim, que o maior obstáculo para as grandes obras-primas são as mãos, a desobediência das mãos.

Um comentário:

Clarisse disse...

ou talvez..
a obediência a elas.