quarta-feira, 2 de maio de 2007

para clarice

a memória é para estar dentro. no pensamento, transformando a gente em força ou na palavra, transformando a gente em tempo. a imagem trai a memória. não preciso de fotografias. pra te ver, fecho os olhos e você.

Dizem as más línguas que viemos pra esse mundo por um segundo de felicidade. Um segundo que é sempre o primeiro porque não se repete. Momento além do qual todas as outras formas de estar bem, de ficar bem terão sido no final tentativas vãs de aproximação desse primeiro segundo, desse instante fundador. Mas ele é único. Um momento que tem pra todo mundo, nem que seja por um segundo. E pra poder chegar pra todo mundo, não pode ser muito demorado, não. Só a felicidade possível. Uma gota de prata necessária como prova de que existimos realmente, de que tínhamos vivido; pra que quando a gente chegasse às margens do rio do esquecimento que tem depois que a gente morre, a gente pudesse lembrar uma última vez, ainda. O mínimo possível, o máximo para nós. Dizem que viemos só por esses momentos.

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