sexta-feira, 4 de maio de 2007

um presente de xico vieira

"O poeta convalescente
distribuindo os prospectos
sobre o alarido da enfermaria

apesar da dor, larga-se ao sonho
está desperto
sob os brios do clorofórmio
acesso em sua pesquisa
diária de não vir a sucumbir.

O poeta padecendo
convalesce a nós todos;
não desce já aos Campos Elíseos
ocupado que esteja
sondando o remédio universal.

Gravemente nos convova
para a contenda irremediável
silenciosa abaixo dos holofote:
o poeta não-bélico, mas cândido

cândido sob árvores nuas
vai apascentando cuidados
repartindo luzes
de órfão cidade
guiando lúgubres lustres
à custa do século inumerável.

(chico vieira, dezembro de 2 mil e 3)

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