domingo, 17 de junho de 2007

O palácio das árvores

para simone rô passos

Grandes senhoras cegas, como duas imensas árvores.

São duas senhoras que se olham, se acariciam, se tocam, se abraçam, se entrelaçam, se apertam, puxando, arrastando uma a outra. As grandes damas se rasgam, se batem, se agridem, gritam, calam-se... mas não se misturam, não se aglutinam, não se amam, não se vêem dentro da outra, não se sonham, não se sabem, não se comem, não trepam, não gozam.

Não vivem juntas, estas senhoras não convivem. Se encontram casualmente, de vez em quando, vez por outra, por obra de um rapaz jovial e travesso, o acaso.

São duas damas, duas respectivas senhoras de si e dos outros que vivem sob suas saias, seus vestidos, seios e sexo, se alimentando, lhes sugando todo o leite, o mel, o vinho, cachaça, a cana, o suco, a seiva, o sangue, a vida, a cor, como parasitas saciando-se. Sangue-sugas, víboras entrelaçadas nos braços e nas pernas das mais antigas senhoras do universo: a senhora destino; a senhora justiça.

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