segunda-feira, 11 de junho de 2007

À salvo em Salvador, a última cidade

Eu desfrutei do sol perto da casa de Márcia Belchior e seu pequeno Miguel. Vilas do Atlântico é um condomínio tão imenso que virou bairro. Espontaneamente. Uma praia semi-deserta, reduto dos surfistas.

Em Salvador, vi o Pelourinho, cidade antiga e colorida. Dos albergues de madeira, imagens esculpidas nas igrejas mais antigas. Ladeiras e mais ladeiras de paralelepípedos até a Ladeira do Carmo, onde reina, íntegro, o Convento do Carmo já tornado hotel.

Em Salvador, vi a cidade baixa e o elevador Lacerda. O Forte de São Marcelo e suas paredes de prisão como a Ilha do Governador. Pequenas embarcações e o sol avermelhado, cremoso, se pondo nas ilhas do horizonte. Da antiga sacada do casarão 64, na Ladeira do Carmo, hoje um bar chiqueiroso onde se serve Miolo a trinta-e-três reais. Os donos estão pintados em quadros do corredor escuro: senhores, brancos e aureolados.

Do alto era lindo, indescritível. Ou não se pode fazê-lo ou ainda não posso tanto.

Da Fundação Casa de Jorge Amado, vi um negão subindo a ladeira colorida com as mãos, sem pernas, grotesco e belo como num filme de Cláudio Assis. Um milhão de produtos miudinhos e sortidos por não menos de cinqüenta reais.

Guias repentinos se achegam e lhe recebem com uma chuva de informações sobre os prédios, sobre as fontes, as praças, quitandeiras, monumentos e depois lhe pedem um trocado. Alguns ameaçam de assalto ou outras atrocidades se você negar.

No Pelourinho não há planos, tudo ou sobe ou desce. Simbolicamente. Márcia Belchior encontra nisso o leitmotiv da retaguarda avantajada das baianas.

As baianas! Ah! As baianas...

São normais como qualquer outra mulher. Não são nem mais negras. São mulatas, são cafuças, são mestiças. As negras são como o pelourinho, folclore.

As cidades não existem mais. O Pelourinho, a Cidade Baixa, a Praia de Iracema, a Baía de Guanabara são restos mortais. Museus a céu aberto. Tudo agora é um imenso não-lugar. Da estranheza de encontrar, no final de uma grande avenida, no centrão da cidade, movimentadíssima, comercializadíssima, urbanizadíssima, sujíssima, a Praia de Itapoá, um paradoxo toquinheiro.

Aprendi que as cidades estão mortas. E que as árvores existem para recomeçá-las.

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