Cidade construída por nordestinos. Largas avenidas andradeanas. Prédios não, são edifícios. Onde a respiração é pouca e as árvores não sobram. São Paulo. É difícil respirar em São Paulo. E até no Ibirapuera a civilização deixa seus traços. Rios e riachos mortos ou morrendo. Do alto, rios de tinta espessa, grossa, cinza. Cidade vertical. Cidade que trabalha. Aqui, tudo é mercado, comércio, business. Cidade de tanto para ver e pouco de sair de casa.
Na Av. Paulista, 13 graus no relógio enquanto um se acomoda em filetes de papelão, um senhor também mendigo se despede de uma mulher jovem com um beijo na testa e um “vá com deus” que comove. Gestos perdidos de delicadeza arfante. A flor no asfalto.
São Paulo, de uma urbanidade estranha, diferente de Brasília. Cidade de possibilidades e, portanto, enfalsa, escorregadia, sorrateira, a espreita de seus passos, sob vigília constante. São Paulo, a cidade que (quase) nunca dorme. No metrô, eu mesmo precisei de um lixeiro, procurei e não o encontrei. Segurei para ver se o havia dentro dos vagões e ainda assim não o achei. Esperei até a próxima estação, cinco ou dez minutos depois, um lixeiro com meu nome “Léo”. Grande. Letras amarelas em fundo preto. Como se me chamasse.
Aqui, tudo chama. Aqui, a chama fria das sombras. Aqui, procura-se o sol pelas calçadas. E nem chegamos na época mais fria. Quarta, dia trinta de maio, aniversário do Carlos Gadelhas, amigo d’ O quarto das cinzas e sua linda bandlider Laya Lopes e seu fiel escudeiro menino-pan Rafael Gadelha, o segundo dos Argonautas. E tudo a sete graus. Tive medo. Quem tem medo de hipotermia?
Nessa cidade, meus guias dormem.
a palavra é o mundo em miniatura, um silêncio que aparece. as palavras são sementes de sentido.
segunda-feira, 11 de junho de 2007
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