quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

a pólvora

(para Tatiana R. Passos)

Ganhei dois pesos de chumbo essa semana
e ainda não sei pra que lado fica a fonte.
Estou certo mesmo quando reconheço o erro
e isso dói como prender o dedo à porta.

Como compreender o que não se encerra, o que não cessa?
Como entender o que só se encerra em si mesmo,
em silêncio, não se abriga, não se abre, não se apega, não se aninha?

Nem você nem eu sabemos da melhor escolha.
Trabalha-se com o que se tem
e às vezes, muitas vezes, quase sempre, aliás,
se quer mais,
e mais e mais...

Não sabemos do melhor caminho,
aprendemos e o fazemos como possível.
E isso dói como rasgar o dedo em cacos de vitrais.

Ainda é cedo, amor, já cantava Cartola.
Enquanto escuto essa música,
lembro de ti, em minha idade,
de mim na sua idade:

Você tem toda a razão, sim, toda a razão...
e tudo vai convergir para confirmar o que você diz
e todos vão co-agir para reafirmar o que você pensa
não só porque pra você a vida começa agora
mas porque você tem a idade das certezas,
a idade das verdades,
a idade de ferro,
a idade das muralhas.
Há sempre sábios e loucos terceiros a concordar com o que quer que seja,
loucura ou epigrama,
a concordar com qualquer que seja a nossa escolha.

em verdade, ninguém sabe mesmo a idade que tem.

e não se esqueça: a verdade é sempre verde, sempre.
(Um conselho é sempre uma forma de cuidar)

Guias? Discípulos? Não se pode escolher ser um-ou-outro ou um-e-outro.
Não nos cabe o direito de escolher.
Já disse outra vez e não canso de repetir:

Dois deuses acima de nós
disputam o controle de nossos atos,
o destino e o acaso.

Aprende sempre quem ensina
e quem aprende sempre ensina a si mesmo.
Amar é um segredo.
Amar é o exercício constante de aprender os silêncios.

Mas do silêncio sozinho
só pode vir
o erro.
E ainda assim
ainda assim
não descobrimos a pólvora!


16 de outubro
22h45

Um comentário:

Anônimo disse...

a invenção é feita de muito conflito e silêncio.