Preciso de pouco, Alan.
Preciso de algumas roupas, paliativos médicos, papel, caneta, lápis e um maldito marca-texto que não me deixa em paz. Preciso de pouco e é por isso que sobra espaço na mala. Houve um tempo em que eu precisava de menos ainda.
Meu livro, Alan, fala de uma estrada, uma longa jornada até a fonte. De um estrada repleta de árvores que caminham juntas de nós, nos ensinando, tentando nos ensinar alguma coisa. A estrada entre árvores e túmulos.
Cada poeta que levo é uma arma e um escudo. Cada poema compõe uma folha da árvore e seu sumo. E cada trecho, cada citação é uma voz que se alevanta no cortejo. Caminhamos juntos. Vamos de mãos dadas como diria Drummond.
Levo todos comigo porque ali não sou eu, você, Mardônio, Bittencourt, Virgílio, Ylo, Carlos Emílio, Ayla, Uirá, Luciano... Ali, somos um só, todos um só. A mesma espécie poética. Refazendo-nos e refolhando-se a cada dia para recompor tudo, para recompor o mundo.
Somos poetas diferentes, é verdade! Porque há árvores diferentes. Mas somos da mesma espécie de seres, da mesma espécie arbórea. A mesma poesia feita de retalhos de voz de todas as cores a caminhar como fantasmas pelos livros inteiros.
Uma vez vi uma árvore sozinha. E tive pena de sua ingenuidade. E me aproximei para abraçá-la, enternecido. E à medida que me aproximava, vi que pousados nos seus galhos havia centenas de seres alados, dormindo sob as folhas. E vi que aos seus pés, formigas vinham lhes fazer morada; que dentro do seu tronco repousava uma grande ave noturna; vi que de dentro de seus frutos emanava uma luz branca onde havia rabiscada toda a história, toda a memória das antiguidades. “As árvores são fáceis de achar” canta Bittencourt querendo caçoar de mim, mas eu ali compreendi que não há ser em maior movimento. Porque seu movimento é para cima, para o alto; e para baixo, rumo ao profundo segredo do mundo; e para sempre. Infinitamente grande. Infinitamente sem fim.
Deleuze estava errado. Livre não é o rizoma. O rizoma é uma árvore guardada. O sonho do rizoma é ser árvore. E ali, comigo, cada poeta é uma árvore, cada poema é um fruto, cada palavra uma semente para repovoar as consciências.
a palavra é o mundo em miniatura, um silêncio que aparece. as palavras são sementes de sentido.
segunda-feira, 11 de junho de 2007
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